terça-feira, 23 de abril de 2013

Porém, enquanto pensava, seus pés o levavam, passo a passo, cada vez mais perto do ponto na distância, que nesse meio-tempo havia se tornado uma mancha, dando, dentro em pouco, todos os sinais de se transformar numa forma. E logo depois disso a forma se tornou um vulto. E então, conforme Bruno chegava ainda mais perto, ele viu que não era nem ponto nem mancha nem forma nem vulto, e sim uma pessoa.
Na verdade era um menino.

John Boyne, O menino do pijama listrado

terça-feira, 16 de abril de 2013

Quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre-docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência

Paulo Leminski, caprichos & relaxos (saques, piques, toques & baques)
coração
PRA CIMA
escrito embaixo
FRÁGIL

Paulo Leminski, não fosse isso e era menos 
não fosse tanto e era quase
Bruno encarou-o, surpreso. Aquilo não fazia sentido para ele. "Mas você é um servente", disse ele lentamente. "E você descasca os legumes para o jantar. Como pode ser também um médico?"
"Joven rapaz", disse Pavel (e Bruno gostou da cortesia de ele o chamar de 'jovem rapaz', e não de 'homenzinho',como fazia o tenente Kotler), "eu sou, de fato, médico. Só porque um homem olha para o céu à noite, isso não faz dele um astrônomo, sabia?"

John Boyne, O menino do pijama listrado
nascemos em poemas diversos
destino quis que a gente se achasse
na mesma estrofe e na mesma classe
no mesmo verso e na mesma frase

rima à primeira vista nos vimos
trocamos nossos sinônimos
olhares não mais anônimos

nesta altura da leitura
nas mesmas pistas
mistas a minha a tua a nossa linha

Paulo Leminski, não fosse isso e era menos 
não fosse tanto e era quase
Depois de hoje
a vida não vai ser a mesma
a menos que eu insista em me enganar
aliás
depois de ontem
também foi assim
anteontem
antes
amanhã

Paulo Leminski, Quarenta clics em curitiba [1976]