segunda-feira, 16 de julho de 2012

- E como sabe disso?
- Eu vejo, eu deduzo. Como é que sei que você se molhou todo recentemente, e que tem uma criada bastante desajeitada e descuidada?
- Meu querido Holmes - disse eu -,isto é demais. Você certamente teria sido queimado na fogueira se vivesse há alguns séculos. É verdade que fiz uma caminhada no campo na quinta-feira e que voltei para casa terrivelmente sujo.Mas como mudei minhas roupas,não consigo imaginar como você fez essa dedução. Sobre Mary Jane, ela é incorrigível, e minha esposa já a despediu. E, nesse ponto, outra vez falho ao tentar compreender como descobriu isso.
Ele riu sozinho e esfregou suas longas e nervosas mãos.
- É muito simples - disse -, meus olhos me dizem que no lado interno do seu sapato esquerdo, justamente onde a luz do fogo da lareira se projeta, o couro está arranhado por seis cortes praticamente paralelos. Foram obviamente causados por alguém que muito descuidadamente raspou as laterias da sola para remover lama incrustada.Por isso veja você, cheguei à dupla dedução de que você andou na rua sob um tempo terrível e de que tinha um exemplar particularmente ruim de criadagem destruidora de sapatos londrina. (...)
Eu não podia evitar o riso diante da facilidade com que ele explicou o seu processo de dedução:
- Quando ouço suas fundamentações - falei -, a coisa sempre parece tão ridiculamente simples que eu mesmo poderia fazer tais deduções,embora a cada passo do seu raciocínio eu fique desconcertado até que você o explique por inteiro. E assim mesmo ainda acredito que os meus olhos são tão bons quanto os seus.
- Exatamente - ele respondeu, ascendendo um cigarro e jogando-se em uma poltrona - Você vê,mas não observa. A diferença é clara. Por exemplo, você viu muitas vezes os degraus que vêm do hall até este quarto.
- Muitas.
- Quantas?
- Bem, algumas centenas de vezes.
- E quantos eles são?
- Quantos? Não sei.
- Exatamente. Você não os observou. E, mesmo assim, você os viu. Essa é justamente a questão, sei que há dezessete degraus porque já fiz as duas coisas: vi e observei. (...)

Sir Arthur Conan Doyle, As melhores histórias de Sherlock Holmes

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