quarta-feira, 30 de maio de 2012

De repente, havia um garoto no meio dos toneis ainda fumegantes onde Capricórnio mandara incendiar os livros. Meggie foi a única que o notou. Todos os outros estavam absortos demais na história. O próprio Mo não percebeu, estava longe, em algum lugar entre a areia e o vento, enquanto os seus olhos tateavam no labirinto de letras.
O garoto deveria ser tres ou quatro anos mais velho que Meggie. O tubante em sua cabeça estava sujo, e os olhos no rosto moreno estavam escuros de medo. Ele esfregou-os como que para apagar a imagem falsa, o lugar falso que tinha diante de si. Olhou ao seu redor na igreja vazia, como se nunca tivesse visto uma edificação como aquela. E como poderia? Em sua história certamente não havia igrejas de torres pontudas nem colinas verdejantes como as que esperavam por ele lá fora. O traje, que lhe chegava quase até os pés, era azul e brilhava como um pedaço do céu.
"O que vai acontecer se eles o virem?", pensou Meggie. "Certamente ele não é o que Capricórnio estava esperando".
Mas nesse momento Capricórnio também já o havia notado.
- Espere! - ele gritou tão alto que Mo interrompeu a frase no meio e ergueu a cabeça.
De forma brusca e um tanto contrafeitos, os homens de Capricórnio voltaram à realidade. Cockerell foi o primeiro a se pôr de pé.
- Ei, de onde é que ele veio? - rosnou.
O jovem abaixou-se, olhou em volta o rosto paralisado pelo medo e saiu correndo em zigue-zague como um coelho. Mas não foi muito longe. Imediatamente, três homens correram atrás dele e o apanharam ao pé da estátua de Capricórnio.
 Mo pôs o livro no chão ao seu lado e cobriu o rosto com as mãos.
- Ei! Fulvio sumiu! - exclamou um dos homens de Capricórnio. - Ele simplesmente evaporou.
Todos olharam para Mo. O medo estava de volta no rosto deles, só que dessa vez não se tingia apenas de admiração, mas também de cólera.
- Leve o garoto embora, Língua Encantada - ordenou, irritado. - Iguais ele já tenho mais do que o suficiente. E traga-me Fulvio de volta.

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